Jafar Panahi (Persa: ???? ?????) nasceu no dia 11 de Julho de 1960 em Mianeh no Irã. Com apenas dez anos idade, Panahi já mexia com uma câmera de filme de 8 mm. Ainda criança, atuou em um filme e ajudou o diretor da biblioteca de Kanoon (Instituto para Desenvolvimento Intelectual de Crianças e Jovens Adultos) a executar um programa que ensinava as crianças a operar uma câmera de filme, e lá conheceu o cineasta Abbas Kiarostami, que ensinava no Instituto. A partir dos 12 anos, Panahi começou a trabalhar depois da escola para que pudesse pagar para ir assistir filmes. Sua infância empobrecida ajudou a formar a visão de mundo humanista de seus filmes.
Aos 20 anos, Panahi foi recrutado pelo exército iraniano e serviu na Guerra entre o Irã e o Iraque, trabalhando como diretor de fotografia do exército entre 1980 e 1982. Em 1981, foi capturado por rebeldes curdos e mantido por 76 dias. A partir de suas experiências de guerra, fez um documentário que foi exibido na TV. Após concluir seu serviço militar, Panahi se matriculou na Faculdade de Cinema e TV de Teerã, onde estudou cinema e, nos anos posteriores, passou a fazer diversos curtas-metragens.
Em seguida, inspirado na história de Luis Buñuel que, quando jovem, entrou em contato com o bem-sucedido diretor Jean Epstein para pedir um emprego no cinema, Panahi deixou uma mensagem na secretária eletrônica de Kiarostami dizendo que ele amava seus filmes e pediu um emprego em seu próximo filme. Kiarostami contratou Panahi como diretor assistente no filme Através das Oliveiras (1994). Kiarostami assistiu vários curtas-metragens de Panahi e, em 1995, afirmou que Panahi era "extremamente talentoso e poderia ser uma figura promissora no futuro do cinema".
O primeiro longa-metragem dirigido por Panahi foi O Balão Branco (1995), sobre uma jovem que quer comprar um peixe dourado, mas perde seu dinheiro pelo ralo de esgoto. O drama foi escrito por Kiarostami e consagrou a Panahi a Câmera de Ouro, o prêmio de diretores de primeira viagem, no Festival de Cannes. Em seu primeiro filme, Panahi já começou a ter problemas com o governo iraniano, que o impediu de promover seu trabalho nos Estados Unidos por conta de conflitos políticos entre o governo americano e o governo iraniano.
Panahi escreveu o roteiro de seu próximo filme, O Espelho (1997), sobre uma jovem garota que decide voltar para casa sozinha, apesar de não saber seu endereço, pois sua mãe não foi buscá-la no final do dia escolar. A história muda abruptamente quando a atriz que interpreta o personagem principal quebra a quarta parede do filme e anuncia que está cansada de interpretar o papel e quer ir para casa. O longa recebeu o Leopardo de Ouro no Festival de Locarno.
Os filmes de Panahi passaram a ser mais abertamente políticos a partir do filme O Círculo (2000), sobre a forma em que as mulheres são tratadas no Irã contemporâneo. O filme foi inscrito ilegalmente no Festival de Veneza e venceu o prêmio do Leão de Ouro no festival. O Ministério da Cultura baniu o filme no Irã por sua ?perspectiva negativa? e Panahi decidiu fazer diversas cópias do filme e, com medo do governo querer destruir todas as cópias de seu trabalho, escondeu por todo o país.
Em 2003, Panahi dirigiu o Ouro Carmim, que começa com um assalto a uma joalheria. O resto do filme é um flashback que segue o ladrão, um pobre entregador de pizza, enquanto passa por desigualdades e injustiças e como ele foi tratado por gente de classe mais alta. O longa foi escrito por Kiarostami e também foi inscrito ilegalmente no Festival de Cannes, onde venceu o prêmio de Un Certain Regard. Esse foi o seu segundo filme a ser banido no Irã. Em seguida, Panahi dirigiu Fora do Jogo (2006), que se concentra em seis jovens mulheres fãs de futebol que tentam entrar em uma partida de qualificação para a Copa do Mundo entre Irã e Bahrain em 8 de junho de 2005. As mulheres são proibidas de participar de eventos esportivos no Irã e, então, tentam se disfarçar vestidas de homem para poder participar. Panahi enviou uma versão falsa do roteiro para aprovação do Ministério da Cultura, sabendo que não aprovariam o roteiro real, porém o Ministério negou aprovação do roteiro, alegando que só aprovariam seu novo trabalho se ele re-editasse seus filmes anteriores.
Panahi recusou o pedido e começou a filmar o longa clandestinamente contra a reprovação do Ministério, pois não queria perder o grande evento de disputa para a Copa do Mundo. No final da gravação, um artigo em um jornal mencionou a produção do filme e o nome de Panahi, e o Ministério tentou impedir e confiscar as filmagens, porém Panahi já havia terminado de filmar quase tudo, faltando apenas a cena final dentro de um ônibus. Panahi esperava poder lançar o filme nos cinemas e era esperado que fosse um grande sucesso de bilheteria no país pelo tema esportivo, porém, o longa foi banido do Irã pelo Ministério. Dois dias depois do banimento, cópias ilegais do DVD do longa foram distribuídas por todo o país, e Panahi acredita que esse seja o seu filme mais assistido no Irã. O longa ainda venceu o prêmio do Júri com o Urso de Prata no Festival de Berlin.
Com o passar dos anos, Panahi encontrou diversos conflitos com o governo iraniano e seu maior conflito aconteceu em 2010, quando foi preso, junto com diversas outras pessoas, na prisão de Evin, conhecido como um local de prisioneiros políticos. Depois de 2 dias, a maioria foi libertada, porém Panahi continuou aprisionado. Apenas um mês depois, o governo iraniano divulgou publicamente a razão de sua prisão, alegando que ele estava produzindo um documentário contra o Presidente reeleito em 2009. Dois meses após sua prisão, Panahi conseguiu mandar uma mensagem para o diretor do Pouya Cultural Center, uma organização cultural iraniana-francesa em Paris, dizendo que estava sendo maltratado na prisão e sua família ameaçada e, como resultado, iniciaram uma greve de fome. Em 25 de Maio, Panahi foi libertado sob fiança equivalente a 200 mil dólares enquanto aguardava julgamento.
Em Dezembro de 2010, Panahi foi condenado pela Corte Islâmica do país por ?intenção de querer cometer crimes contra a segurança do país e por propaganda contra a República Islâmica.? A Corte o condenou a seis anos de prisão e vinte anos de proibido de fazer filmes, escrever roteiros, dar entrevistas para mídia e de sair do Irã. Uma Corte no Teerã conseguiu tirar sua sentença na prisão, porém, as proibições se mantiveram. Durante seu tempo de prisão, uma petição foi feita por dezenas de cineastas iranianos e internacionais em apoio à Panahi, pedindo por sua libertação.
Apesar do banimento, Panahi não parou de trabalhar e fez o documentário Isto não é um Filme (2011), realizado ilegalmente com a colaboração do cineasta Mojtaba Mirtahmasb, um orçamento de cerca de 3.200 libras, uma câmera digital e a câmera do iPhone. O filme documenta um dia de sua vida enquanto esperava a apelação de sua sentença. Apenas dez dias antes do próximo Festival de Cannes, o filme foi anunciado como surpresa no evento, e o longa foi enviado clandestinamente por um USB dentro de um bolo para o festival. O documentário ainda foi pré-selecionado entre os quinze melhores documentários para ser nomeado ao Oscar. Em outubro do mesmo ano, sua apelação contra o banimento foi negado e Panahi foi colocado em prisão domiciliar pelo governo.
Apesar de sua situação, Panahi continuou trabalhando e, em outubro de 2012, Kiarostami contou a um jornalista que Panahi havia terminado mais um filme, também feito ilegalmente, e que pretendia enviar para festivais de cinema. Em Janeiro de 2013, o Festival de Berlim anunciou a estreia do filme no evento, onde ganhou o Urso de Prata por Melhor Roteiro. Cortinas Fechadas (2013) é um docuficção co-dirigido por Kambuzia Partovi sobre um roteirista que entra em reclusão em sua casa à beira-mar, mas sua solidão é perturbada por uma jovem mulher que foge da polícia. Como no filme O Espelho, quando a quarta parede é quebrada e a história é cruzada com a vida real, Panahi aparece como ele mesmo e os personagens tentam fazê-lo terminar a história. Panahi filmou secretamente em sua própria casa à beira-mar com uma pequena equipe.
Em seguida, dirigiu mais um trabalho ilegalmente, mais uma docuficção chamado Táxi Teerã (2015), filmado inteiramente dentro de um táxi dirigido por Panahi com uma câmera posta no carro, supostamente para impedi-lo de ser assaltado no táxi. De forma cômica, Panahi dá carona para diversas pessoas e passa por diversas situações e conversas. O trabalho foi exibido no Festival de Berlim e venceu o Urso de Ouro, o principal prêmio do festival.
O drama 3 Faces (2018) foi seu trabalho mais recente, também realizado ilegalmente por conta de seu banimento de 20 anos. Porém, foi seu filme produzido de forma mais livre, pois Panahi foi para uma localização isolada do interior do Irã, onde haveria um risco muito menor de ser pego pelo governo. No filme, Behnaz Jafari, uma popular atriz iraniana, procura uma jovem no noroeste do Irã com seu amigo, Jafar Panahi, depois de ver um vídeo da garota pedindo ajuda para deixar sua família conservadora. O filme toma a forma de um filme de estrada e muito do que ocorre é visto de dentro e ao redor do carro de Panahi. Vários encontros extravagantes acontecem na viagem, com personagens e tradições locais. O longa foi exibido no Festival de Cannes e recebeu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival.
O seu estilo de cinema é muito semelhante ao de seu mentor, Abbas Kiarostami, em um estilo neorrealista e documental, mas Panahi é mais explícito em suas críticas sociais que, como consequência, o causou diversos conflitos com o governo iraniano. Panahi afirma que seu estilo pode ser descrito como "eventos humanitários interpretados de maneira poética e artística?. O cineasta é amplamente admirado por cineastas e amantes do cinema pelo mundo devido a sua contínua ?rebeldia? contra o governo. Apesar dos conflitos, Jafar Panahi faz de tudo para continuar contando suas histórias e fazer críticas sociais ao país em que vive, de uma forma que poucos tiveram a coragem de fazer por medo de censura, banimento e aprisionamento.