Park Chan-wook, O Mr. Vingança

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- 03/07/2020 11:24:16


Park Chan-wook (Hangul: ???) nasceu no dia 23 de Agosto de 1963 em Seul, na Coreia do Sul. Filho de um professor de universidade em uma família de classe média, Park cresceu em uma atmosfera rica em conhecimento artístico, onde toda a família debatia assuntos como as músicas de Bach durante o jantar.

 

Na faculdade, ingressou no Departamento de Filosofia na Universidade de Sogang para estudar estéticas, mas ninguém imaginava que ele se tornaria um diretor. Porém, discordando com a escolha de ensino na universidade, Park se juntou a um grupo de fotografia e, assim, ficou mais próximo do cinema. Ao mesmo tempo, estudou teorias de filme com um grupo de cinema em seu campus e, com esses estudos, começou a escrever críticas para uma revista de cinema chamada Screen. Sua decisão de se tornar um diretor de cinema veio após assistir Um Corpo Que Cai (1958), de Alfred Hitchcock, durante seu último ano de estudo. Após sua graduação, em 1989, logo começou a trabalhar em filmes, ajudando como assistente de direção em projetos de diretores como Yu Yeong-jin e Kwak Jae-yong.
No filme de estreia de Kwak, Watercolor Painting in a Rainy Day, Park tinha muitas responsabilidades como um iniciante no papel de assistente de direção e saiu da produção quando estava 90% completa, pois as condições de trabalho na indústria cinematográfica sul-coreana da época eram consideradas terríveis, principalmente para um jovem iniciante. Depois disso, Park passou um tempo escrevendo roteiros. Em 1990, quando se casou e precisava de dinheiro para sustentar a casa, começou a trabalhar em uma produtora de filmes fazendo traduções, design de pôster e contato com cinemas locais para fazer estreias de filmes.
Então, com o aumento no consumo de aparelhos eletrônicos e de vídeo, começou uma grande demanda de produções audiovisuais na Coreia do Sul. Com isso, uma empresa de vídeo chamada Dreambox, afiliada à Samsung, requisitou a produção do filme The Moon Is... the Sun's Dream (1992), que se tornou o primeiro longa de Park. 

 

A empresa solicitou que o filme tivesse a adolescente Lee Seung-chul como estrela. Park começou a ficar preocupado que não conseguiria tirar uma boa performance da atriz e não gostava das solicitações da empresa de como o filme deveria ser. Por conta disso, pensou em abandonar o projeto, mas um colega de trabalho o aconselhou e o convenceu a continuar, já que seria seu primeiro trabalho como diretor. O filme acabou sendo um grande fracasso e foi retirado de venda de todos os lugares, se tornando um filme raro de se achar, e um trabalho o qual Park gostaria de esquecer. O fracasso do filme foi tanto que Park foi o único a publicar uma crítica sobre o longa, sob o nome de seu amigo.
Após o fracasso, continuou a escrever críticas de cinema para ganhar dinheiro até, finalmente, conseguir fazer o seu próximo filme em 1997, Trio, que também encontrou fracasso e ficou perdido pelo tempo. Em 1999, dirigiu seu primeiro curta-metragem Judgement, que foi bem recebido e, em 2000, dirigiu seu terceiro longa-metragem, filme que salvou sua carreira de diretor. O filme é um thriller de mistério sobre quatro soldados chamado Zona de Risco (2000), um filme que Park tem ótimas memórias por ter criado uma boa amizade com os atores, com os quais saía para beber logo após terminar as filmagens do dia. O longa foi de grande sucesso na Coreia do Sul, se tornando o filme mais bem vendido do país na época. O compositor musical do filme, que na época era seu vizinho, também se tornou seu amigo e parceiro de longa data.


Seus próximos trabalhos formariam uma trilogia, conhecido como a Trilogia da Vingança, o que marcou Park Chan-wook como o maior diretor autoral da Coreia do Sul na época. Park se tornou o cineasta responsável por colocar a Coreia do Sul no mapa do cinema mundial. A Trilogia da Vingança é formada por três filmes devastadores sobre vingança e sobrevivência. O diretor não concebeu os filmes como uma trilogia e prefere pensar neles como três meditações distintas sobre o tema da vingança, contando histórias de pessoas comuns levadas à extremos extraordinários.
A reputação de Park como Senhor Vingança muitas vezes sugere que seus filmes são compostos como espetáculos violentos. É mais preciso dizer que sua visão para detalhes e composição são quase incomparáveis e, quando explora o horror visceral, as imagens são tão fascinantes que o atraem, em vez de o repelir. A razão pela qual essas imagens ecoam, em uma era em que tanta violência nos desumanizou, é que seus filmes retornam mais sentimentos ao espectador do que tiram, representando sua compaixão com o oprimido, a pessoa levada à beira do abismo do desespero. O diretor afirma que crescer em Seul, sob o regime muitas vezes brutal do ditador Chun Doo-hwan (1979-1988), moldou profundamente sua imaginação.
O primeiro filme dessa trilogia de filmes foi Mr. Vingança (2002), que teve uma recepção recente, mas seu grande sucesso veio com o segundo filme, Oldboy (2003), recebido com grande aclamação da crítica e recebeu o prêmio Grand Prix no Festival de Cannes, o segundo prêmio mais importante do festival. Além de seu fantástico visual e a chocante violência, o filme foi notado por ser um thriller que se aprofundou na humanidade do personagem, dando um significado a mais nas cenas impactantes do filme. Sua visão como diretor também foi notada como uma excelente poesia obscura. A trilogia foi concluída com Lady Vingança (2005), que também foi recebido com ótimas críticas, contanto com mais um filme com visuais e cenas marcantes contado de uma forma poética e obscura. A trilogia recebeu dezenas de prêmios em premiações da Ásia, festivais de cinema internacionais e em círculos de críticos, e elevou Park como um dos principais autores do cinema mundial no momento.

 

Em 2004, Park se tornou dono da produtora Moho Film e passou a ser co-produtor de todos os seus filmes a partir do longa Eu Sou um Cyborg, e Daí? (2006), uma comédia inusitada que recebeu uma recepção boa de crítica e uma recepção moderada de público. Seu próximo filme, Sede de Sangue (2009), estrelado por Song Kang-ho, foi uma mistura de thriller com terror em um romance entre dois vampiros. O filme recebeu boas avaliações da crítica e do público nacional, e recebeu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, além de ganhar diversos outros filmes por premiações asiáticas.
Em 2011, Park chamou atenção quando co-dirigiu um curta-metragem inteiro em um iPhone 4. O curta Night Fishing recebeu o prêmio de Urso de Ouro para melhor curta no Festival de Berlim. Em 2013, dirigiu seu primeiro filme em inglês, Segredos de Sangue. O diretor disse que aprendeu a acelerar o processo de produção e concluiu as filmagens em 480 horas. Embora Park fale inglês, ele escolheu usar um intérprete no set. Segredos de Sangue foi o seu primeiro filme em que ele não trabalhou no roteiro e, sobre o motivo pelo qual o roteiro desse filme atraiu sua atenção, Park disse: "Não foi um roteiro que tentou explicar tudo e deixou muitas coisas como perguntas, por isso leva o público a encontrar respostas, e foi isso que eu gostei no roteiro. Eu gosto de contar grandes histórias através de mundos pequenos criados artificialmente.?

 

Com o seu próximo filme, Park Chan-wook encontrou aclamação universal e marcou de vez seu nome como um dos maiores diretores atuais. O filme A Criada (2016) é considerado hoje uma das grandes obras primas do século 21. O longa foi tão popular na Coreia do Sul que foi, possivelmente, a primeira vez que foi visto tamanha paixão vinda de uma extensa comunidade de fãs no país, como só era visto antes com ídolos de K-pop. O filme concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes e venceu o prêmio de Melhor Filme em Não Língua Inglesa no BAFTAs, premiação de cinema do Reino Unido. O filme foi baseado no livro Fingersmith, de Sarah Waters.
Park foi inicialmente atraído pelo intenso erotismo do livro de Waters sobre uma vigarista lésbica na Inglaterra vitoriana, mas para sua adaptação, ele estabeleceu a história na Coreia ocupada pelos japoneses na década de 1930, pois Park estava interessado na maneira como os simpatizantes japoneses acreditavam que o Japão governaria para sempre e esperava apagar suas identidades coreanas. O resultado é uma ficção histórica sobre a diferença entre obsessão e amor, assim como também é sutilmente uma história sobre o que significa ser coreano, quando o mundo e até o próprio coreano, tentam tirar isso deles. 


"A Criada" foi um fenômeno tão grande que o Yongsan CGV, um enorme multiplex em um dos shoppings mais populares de Seul, dedicou um de seus teatros em homenagem à Park. O teatro é mantido de acordo com as especificações do diretor, com uma placa do lado de fora em sua homenagem e uma galeria onde ele pode exibir suas fotos e acessórios de seus filmes, incluindo uma das malas de Hideko, quase parecendo como se ela tivesse esquecido lá. Localizado perto de uma das principais bases do exército americano na Coreia do Sul, há uma homenagem à infância de Park assistindo filmes na American Forces Korea Network, um monumento pessoal, mas também uma celebração da cultura cinematográfica coreana que ele desejava, agora crescendo com e ao redor dele.

 

Seu próximo trabalho foi a minissérie britânica de seis episódios dirigidos por ele, The Little Drummer Girl (2018), baseado em um livro de espionagem de mesmo nome. No momento, Park se encontra desenvolvendo diversos projetos, e foi recentemente anunciado na mídia sul-coreana que Park já planeja começar a filmar o seu próximo filme ainda esse ano, o melodrama com seu toque único, The Decision to Break Up. Apesar de toda sua fama nacional, Park não se sente nem se porta como tal, ainda se comportando como se fosse apenas mais um cidadão qualquer pegando um ônibus para circular por Seul, em uma vida calma sem querer atrair atenção de holofotes.


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